A pecuária paulista se destaca no mercado interno e em nível mundial. Com enfoque nas bovinoculturas de leite e corte, a Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CATI/CDRS), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, responsável pela extensão rural, contribui para a sustentabilidade social, econômica e ambiental da atividade no Estado de São Paulo.
A pecuária é a atividade econômica responsável pela criação de diferentes tipos de animais, principalmente para a produção de alimentos, sendo considerada uma das mais antigas práticas da humanidade. Celebrado no dia 14 de outubro, o Dia Nacional da Pecuária – atividade que abrange diversas áreas, como bovinocultura, suinocultura, avicultura, ovinocultura e outros -, foi instituído para demonstrar a importância desse segmento como gerador de riquezas, renda e emprego, o qual proporciona vasta gama de alimentos consumidos no dia a dia, como carne, ovos, leite, manteiga, entre outros.
Desde a segunda metade do século XX, a atividade rural passou por um intenso processo de modernização, que foi resultado da consolidação das indústrias e urbanização da sociedade. Com isso, a pecuária teve um grande salto produtivo, uma vez que precisava abastecer as cidades. Atualmente, o Brasil é um dos principais produtores e exportadores de carne do mundo e a pecuária bovina é uma das atividades econômicas mais praticadas e expressivas. Nesse contexto, as ações realizadas pela CATI/CDRS têm sido, há décadas, fundamentais para a expansão das pecuárias de corte e leite no Estado de São Paulo.
Atuando em consonância com a pesquisa e demais entidades do segmento; orientando e acompanhando os pequenos e médios pecuaristas; bem como executando programas, projetos e políticas públicas, o trabalho de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, realizado por meio da CATI/CDRS, vem contribuindo para consolidar as bases técnicas que elevaram a pecuária de corte a ter um Valor de Produção Agropecuária (VPA) de mais de R$ 9,8 bilhões e a ocupar a segunda colocação no ranking de atividades de importância econômica no cenário do agronegócio paulista (IEA, 2019). Teve, também, grande impacto na trajetória que elevou a pecuária leiteira aos patamares atuais, com mais de mil propriedades, um rebanho de milhares de animais e uma produção de bilhões de litros de leite.
Atualmente, entre as ações de Ater voltadas às pecuárias de leite e corte, ganham destaque como linhas estratégicas de trabalho: execução de políticas públicas, projetos e programas; facilitação do acesso ao crédito rural; incentivo à organização rural; capacitação de produtores rurais; difusão de conhecimento e tecnologia; difusão e incentivo à adoção de Boas Práticas de gestão da propriedade; nutrição do rebanho; recuperação de pastagens degradadas; difusão de Boas Práticas sanitárias e de reprodução; manejo sanitário animal; manejo reprodutivo, como inseminação artificial e outras técnicas; manejo de ordenha; prevenção, controle e tratamento de mastite; melhoramento genético do rebanho; conforto e bem-estar animal; destinação adequada de resíduos; agregação de valor; qualidade do leite e da carne; e produção de alimentos seguros.
As ações extensionistas desenvolvidas, tanto na pecuária de leite quanto na de corte, são realizadas por meio das Casas da Agricultura (presentes em quase todos os municípios paulistas), dos Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) e da assessoria técnica da CATI/CDRS. A execução das atividades leva em conta as características locais e a demanda dos pecuaristas, principalmente dos familiares, pequenos e médios.
Pecuária de leite
Dados do Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuária (LUPA, 2019 – CATI/CDRS-IEA/SAA) demonstram que, das 339 mil Unidades de Produção Agropecuária (UPAs) paulistas, 54,47%, ou seja, cerca de 185 mil, desenvolvem pecuária de corte, leite e mista. Desse universo, 76,47% são propriedades que trabalham a produção leiteira mista ou especializada.
“Comparando o LUPA 2008 e o LUPA 2019, observamos um tímido aumento na quantidade de animais e quantidade de UPAs especializadas na produção leiteira, 6% e 1%, respectivamente. Ao mesmo tempo identificamos uma elevada redução na quantidade de animais e propriedades com produção de leite mista, -46% e -35%, seguindo a ordem. Esses dados levantados pelo LUPA corroboram as informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que indicam redução no número de vacas ordenhadas manualmente e estabelecimentos menos produtivos. No LUPA 2019, verificou-se um expressivo aumento na aquisição de ordenhadeiras mecânicas, o que contribui para o aumento da produção diária com mais qualidade; isso é um claro indicativo de migração de produtores do sistema misto para o especializado. O aumento no número de tanques de resfriamento também indica a adaptação dos produtores às novas instruções normativas”, explica o zootecnista Diego Barrozo, diretor da CATI/CDRS Regional Mogi Mirim e líder do Grupo Técnico de Bovinocultura Leiteira da CATI/CDRS.
Nesse cenário, o zootecnista ressalta que existem centenas de exemplos, em todo o Estado de São Paulo, de pequenos pecuaristas que melhoraram a produtividade, qualidade e rentabilidade por meio de ações técnicas integradas realizadas pela CATI/CDRS, as quais determinaram a permanência de muitos na atividade, com melhor gestão do seu negócio e acesso ao mercado, com organização rural e agregação de valor à produção. “As capacitações e a transferência de tecnologia e conhecimento ‒ nas áreas de produção, gestão e comercialização, tanto de técnicos da rede quanto de pecuaristas ‒ serão intensificadas, para ampliar ainda mais o desenvolvimento sustentável dessa cadeia produtiva”.
Pecuária de corte
Identificando a necessidade de uma atuação mais intensiva, por conta da importância econômica da atividade e sua maciça presença nas propriedades, a CATI/CDRS criou o Grupo Técnico (GT) de Bovinocultura de Corte. “O Grupo possui técnicos capacitados de todas as regiões paulistas, com conhecimento da realidade plural da atividade e vivência de campo e acadêmica”, explica o engenheiro agrônomo João Menezes, líder do GT e responsável pela Casa da Agricultura de Anhumas, ligada à CATI/CDRS Regional Presidente Prudente, acrescentando que o grupo tem, entre outras atribuições, a de elaborar um diagnóstico atualizado da pecuária de corte paulista; atualizar o Protocolo de Boas Práticas Agropecuárias para Bovinocultura de Corte; propor capacitações necessárias para que o corpo técnico possa atender com qualidade e inovação os produtores do setor; propor novas e atualizar as publicações técnicas da CATI/CDRS sobre o tema, bem como atender às demandas apresentadas pelos produtores rurais e a coordenação da extensão rural paulista.
Segundo Nádia Ferreira Dibiasi, zootecnista da CATI/CDRS Regional Marília e integrante do Grupo Técnico, dados do LUPA, 2019, demonstram que, das cerca de 185 mil UPAs que desenvolvem pecuária de corte, leite e mista, 23,53% são exclusivamente de corte. “Em nossos levantamentos de campo, averiguamos que grande parte dos produtores tem a pecuária de corte como segunda atividade, por conta de seu baixo risco, da alta liquidez e do giro rápido de capital: ela é como uma ‘poupança’ na propriedade. Sendo assim, por estar presente na maioria das propriedades, inclusive nas pequenas e médias, é fundamental uma ação de extensão rural coordenada, com diretrizes estratégicas padronizadas, as quais estão sendo definidas e alinhadas pelo GT”.
Nádia acrescenta que, entre as frentes de trabalho que devem ser intensificadas, estão as orientações técnicas para evitar e/ou recuperar pastagens degradadas, incentivando o manejo adequado para melhor conservação do solo. “Outra frente importante de trabalho da extensão rural diz respeito à adequação ambiental das propriedades que desenvolvem a pecuária de corte. Para tanto, uma das principais ferramentas a serem incentivadas são os sistemas integrados, sendo o principal a Integração, Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF), que promove a diversificação e o melhor uso das áreas”.
Um pouco de história
Nos dois segmentos, a CATI/CDRS complementou a atuação da pesquisa, desenvolvendo um intenso trabalho de Ater e fomento desde a década de 1970, priorizando ações de sanidade animal; melhoramento genético e de manejo de pastagens; execução do Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira (PDPL); cessão de tourinhos da raça holandesa para reprodução; realização de exposições e torneios leiteiros em todo o Estado de São Paulo; divulgação de conhecimento e geração de tecnologia; capacitações de pecuaristas; desenvolvimento do Projeto CATI Leite; implementação do Plano Mais Leite, Mais Renda; realização de exposições em diversas regiões, principalmente na área de corte, para disseminar tecnologias de melhoramento genético, as quais mudaram não apenas o plantel paulista, mas toda a concepção da cadeia.
Outra ação que influenciou a expansão das pecuárias de corte e leite foi a realização de projetos e leilões para incentivar o produtor a fazer seleção criteriosa do plantel e favorecer o acesso ao crédito para aquisição de reprodutores e matrizes.
Na área de pastagens, a implantação do Método CATI de Formação de Pastagens revolucionou a área, mudando a metodologia de usar mudas na formação – sistema caro e demorado –, para a utilização pioneira de sementes, sendo a espécie forrageira inicialmente recomendada o capim colonião; e depois, entre outras, as braquiárias, que se tornaram a principal base de formação das pastagens brasileiras.
Por Cleusa Pinheiro