Ater Digital vai impulsionar acesso do produtor rural à assistência técnica

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Foto: Divulgação

Primeira fase do programa ocorrerá em 2020 e 2022. Meta é atender 50% dos agricultores até 2030
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) lançou nesta quinta-feira (8), o Programa Ater Digital, que visa impulsionar a assistência técnica e ampliar o acesso dos agricultores a serviços modernos, ágeis e eficientes, aumentando a competitividade. O Mapa irá destinar, inicialmente, R$ 40 milhões para o programa. A meta é aumentar de 18,2% para 50% até 2030 o percentual de agricultores atendidos por algum tipo de assistência técnica rural no Brasil.
Alguns dos objetivos do programa são fortalecer e ampliar o Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural, por meio de um modelo inovador de governança, e promover a ampla utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) nas ações das empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) e do agro brasileiro.
Na primeira fase do programa, que ocorrerá nos anos 2020 e 2022, serão desenvolvidos cinco projetos específicos, entre os quais está a elaboração de um portal para possibilitar o compartilhamento de informações e conhecimentos sobre pesquisa e extensão nas áreas agrícolas demandadas pelos produtores rurais.

Outros dois projetos terão foco na modernização da infraestrutura de Tecnologia de Informação (TI) das instituições públicas estaduais de Ater e no desenvolvimento de sistemas/aplicativos que promovam a melhoria da produtividade, da qualidade dos produtos agrícolas e a otimização de recursos.
O Ater Digital atuará ainda na capacitação dos extensionistas das Entidades de Ater Públicas para utilização dos recursos móveis de TI e também na implementação de 10 Hubs Pilotos de Informação e Gestão Tecnológica para Agricultura Familiar com o propósito de melhorar a interação entre pesquisa e extensão rural/assistência técnica.
A ministra Tereza Cristina disse que o programa vai ajudar a diminuir as desigualdades na agricultura brasileira. “Para mim, será uma honra e um prazer ter a alegria de ver esse projeto funcionando. Sabemos que talvez nem colheremos os frutos neste mandato, mas só de deixar essa semente plantada, vamos regar ela bastante, colocar bastante adubo para que ela possa florescer o mais rápido possível e melhorar a vida daqueles que precisam muito”, ressaltou.
O secretário de Agricultura Familiar e Cooperativismo, Fernando Schwanke, explica que os serviços de Ater têm importante papel na modernização da agricultura brasileira, sobretudo para a agricultura familiar, mas que a realização do atendimento nos moldes tradicionais enfrenta grandes desafios devido à distribuição geográfica das propriedades rurais e ao número de extensionistas para atender.
“O atendimento presencial não consegue abranger todo o quantitativo de estabelecimentos. Ao utilizar a tecnologia, com o emprego de aplicativos para celular, por exemplo, as empresas de Ater podem ampliar o seu alcance, perpassando as barreiras geográficas, conseguindo chegar lá na ponta, no pequeno agricultor. Queremos dobrar o número de produtores atendidos nos próximos dez anos”, destaca Schwanke.
A ministra Tereza Cristina destacou que a oferta da assistência técnica presencial vai permanecer. “Nunca o presencial vai desaparecer. Na verdade, vamos estar mais perto desse agricultor, que tem muitas dúvidas. E às vezes, aguarda 30 dias pelo retorno do técnico”.
O programa será coordenado pela Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Mapa, por meio do Departamento de Desenvolvimento Comunitário (DDC), em conjunto com a Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação (SDI), e a participação de diversos parceiros, como a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) e a Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer).

Segundo Schwnake, o objetivo do Mapa é fazer a governança dos programas que já existem, inclusive as ferramentas que a Embrapa já tem e também as empresas de assistência técnica dos estados, bem como as empresas privadas.

O diretor de Desenvolvimento Comunitário do Mapa, Pedro Arraes, ressaltou que é preciso integrar as ações de assistência técnica presencial e digital, assim como a necessidade de capacitação dos extensionistas, que são os atores principais desse projeto. “Essa é uma questão estruturante”, disse.

O presidente da Anater, Ademar Silva Jr, colocou a entidade à disposição do Mapa para encontrar as melhores soluções para a melhoria da assistência técnica no Brasil. “Tenho absoluta certeza de que com a expertise da Embrapa, do governo federal, das universidades, vamos achar soluções rápidas, factíveis e baratas para acessar esse agricultor nos assentamentos e nas pequenas propriedades”.
Uma das ações previstas é a implementação, em parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), de serviços de consultoria agrícola digital a agricultores familiares do Nordeste do Brasil. O programa é desenvolvido pela organização PAD – Agricultura de Precisão para o Desenvolvimento, que tem como um dos fundadores Michael Kremer, agraciado com o Prêmio Nobel de Economia 2019. A primeira fase do projeto deverá atender 100 mil pequenos produtores rurais.
“Nos sentimos honrados de ser parceiros do Mapa e vamos trabalhar muito para melhorar as condições de vida desses agricultores familiares, principalmente no Nordeste”, ressaltou o diretor-geral do IICA, Manuel Otero.

Eficiência
Estudo feito pela Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer), em 2017, apontava que os serviços oficiais de extensão rural contavam com 12.766 extensionistas, enquanto o número de estabelecimentos agrícolas ultrapassava 5 milhões, de acordo com Censo Agropecuário IBGE 2017. Desses, 3,9 milhões foram classificados como da agricultura familiar.
Segundo o IBGE, somente 18,2% dos agricultores familiares brasileiros têm acesso aos serviços de Ater. Essa porcentagem varia consideravelmente conforme a região: 48,9% no Sul, 24,5% no Sudeste, 16,4% no Centro-Oeste, 8,8% no Norte e 7,3% no Nordeste.
Proporcionar aos agricultores familiares o acesso a serviços de Ater, de forma ampla, continuada e com qualidade, é essencial para o desenvolvimento desse seguimento, pois busca melhorar a qualidade de vida das famílias rurais, por meio do aperfeiçoamento dos sistemas de produção e de mecanismo de acesso a recursos, serviços e renda, de forma sustentável.
O lançamento também teve como convidados o representante no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), Rafael Zavala; a vice-presidente da região Sul da (Asbraer), Edilene Steinwandter; o diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Daniel Carrara; o vice-presidente de Operações para a América Latina da Corteva, Carlos Hentschke; o presidente da John Deere no Brasil, Paulo Hermann; e a presidente da Divisão de Crop Science da Bayer, Malu Nachreiner.